Lançado no início desse ano, “The Institutionalist Movement in American Economics, 1918-1947” é um marco na carreira de um pesquisador que tem contribuído sobremaneira para a economia institucional. Não há dúvida que o professor Rutherford assume na atualidade o papel de principal especialista em história do pensamento econômico institucionalista. Desde o início da década de 1970, época em que era doutorando da Universidade de Durham, na Inglaterra, seu tema de pesquisa é a economia institucional norte-americana. Já nesses primeiros anos, ele rumou para os Estados Unidos, onde trabalhou na pesquisa para sua tese com o grande Allan Gruchy, possivelmente o institucionalista mais importante do grupo que fundou a AFEE. Assim, foi durante quase quatro décadas que Rutherford teve a oportunidade de conhecer os institucionalistas norte-americanos, ler suas obras, e, principalmente, realizar uma das maiores pesquisas em fontes arquivais que se tem notícia na história do pensamento econômico.
O livro, então, chama a atenção pela quantidade de cartas, manuscritos, documentos oficiais, entrevistas, notas de aula, cadernos de alunos de Veblen, Commons, Mitchell e todo o tipo de fonte que comumente é usado para se fazer a história da ciência econômica. Mas, para além do mérito de ter reunido todo esse material, a obra de Rutherford joga uma nova luz sobre o que significou o movimento institucionalista na economia norte-americana do início do século XX. Segundo Rutherford, e ao contrário da impressão que os cursos tradicionais de história do pensamento econômico podem passar aos alunos, a economia institucional não era a “heterodoxia” do começo do século passado nos Estados Unidos. Os institucionalistas daquele tempo, cujos nomes mais importantes, entre dezenas de outros, seriam os de Wesley Mitchell, Walton Hamilton e John Maurice Clark, eram parte do mainstream da época. Dominavam importantes departamentos de economia, como o de Columbia, da Universidade do Wisconsin e, por mais que possa parecer paradoxal: o da Universidade de Chicago. Os institucionalistas também estiveram envolvidos na criação de institutos de pesquisa de importância capital para a ciência econômica, como o Brookings Institute e a NBER. Mais ainda, das centenas de cartas trocadas entre os institucionalistas e descobertas por Rutherford, emerge algo ainda mais surpreendente, uma rica rede de pesquisa que interagia para discutir, divulgar e aprofundar o paradigma institucionalista em economia (da qual, por incrível que pareça, Commons estava quase totalmente isolado).
O que fica de mais importante da obra-prima de Rutherford é uma nova compreensão sobre a ciência da economia no início do século XX nos Estados Unidos, uma interpretação que já está se tornando canônica entre os especialistas: não havia dominância da economia marginalista, os institucionalistas e os primeiros neoclássicos viveram uma experiência pluralista até o final da Segunda Guerra Mundial, algo que nunca mais se repetiu naquele país. Um breve passeio pelos temas e autores dos trabalhos apresentados no encontro da American Economic Association daqueles tempos pode dar uma noção da tese que Rutherford defende. E isso configura um cenário bem diverso do que se observava na Inglaterra do mesmo período, um domínio inconteste da economia neoclássica e, mais fortemente, da figura de Alfred Marshall.
Ademais, outro ponto importante do livro é descentralização do paradigma institucionalista do nome de Veblen. Ele foi a reconhecida influência de praticamente todos os institucionalistas do começo do século XX, mas tinha uma pequeníssima participação na rede. Era, muitas vezes, consultado, mas nunca se envolveu profundamente com os outros institucionalistas no sentido de estabelecer uma troca constante de idéias, de organização, de cursos e palestras. Aliás, esse é um ponto controverso do livro, pois quando Rutherford apresenta as idéias dos vários institucionalistas que compõem as partes mais detalhadas do livro, a influência do fouding father do institucionalismo salta aos olhos. É possível que Rutherford cometa uma injustiça com a figura de Veblen ao deflacionar sua importância.
Em suma, o livro é necessário para institucionalistas e para aqueles que se interessam por esse ramo da economia. Porém, é importante dizer que esse lançamento é obrigatório também para os professores de história do pensamento econômico e para os pesquisadores da área. A obra é uma lição, de um grande mestre, ex-presidente da AFEE e da History of Economics Society, sobre como fazer história do pensamento econômico: uma grande hipótese, um talento para contar estórias e muito suor lendo o passado salas de arquivos
O livro, então, chama a atenção pela quantidade de cartas, manuscritos, documentos oficiais, entrevistas, notas de aula, cadernos de alunos de Veblen, Commons, Mitchell e todo o tipo de fonte que comumente é usado para se fazer a história da ciência econômica. Mas, para além do mérito de ter reunido todo esse material, a obra de Rutherford joga uma nova luz sobre o que significou o movimento institucionalista na economia norte-americana do início do século XX. Segundo Rutherford, e ao contrário da impressão que os cursos tradicionais de história do pensamento econômico podem passar aos alunos, a economia institucional não era a “heterodoxia” do começo do século passado nos Estados Unidos. Os institucionalistas daquele tempo, cujos nomes mais importantes, entre dezenas de outros, seriam os de Wesley Mitchell, Walton Hamilton e John Maurice Clark, eram parte do mainstream da época. Dominavam importantes departamentos de economia, como o de Columbia, da Universidade do Wisconsin e, por mais que possa parecer paradoxal: o da Universidade de Chicago. Os institucionalistas também estiveram envolvidos na criação de institutos de pesquisa de importância capital para a ciência econômica, como o Brookings Institute e a NBER. Mais ainda, das centenas de cartas trocadas entre os institucionalistas e descobertas por Rutherford, emerge algo ainda mais surpreendente, uma rica rede de pesquisa que interagia para discutir, divulgar e aprofundar o paradigma institucionalista em economia (da qual, por incrível que pareça, Commons estava quase totalmente isolado).
O que fica de mais importante da obra-prima de Rutherford é uma nova compreensão sobre a ciência da economia no início do século XX nos Estados Unidos, uma interpretação que já está se tornando canônica entre os especialistas: não havia dominância da economia marginalista, os institucionalistas e os primeiros neoclássicos viveram uma experiência pluralista até o final da Segunda Guerra Mundial, algo que nunca mais se repetiu naquele país. Um breve passeio pelos temas e autores dos trabalhos apresentados no encontro da American Economic Association daqueles tempos pode dar uma noção da tese que Rutherford defende. E isso configura um cenário bem diverso do que se observava na Inglaterra do mesmo período, um domínio inconteste da economia neoclássica e, mais fortemente, da figura de Alfred Marshall.
Ademais, outro ponto importante do livro é descentralização do paradigma institucionalista do nome de Veblen. Ele foi a reconhecida influência de praticamente todos os institucionalistas do começo do século XX, mas tinha uma pequeníssima participação na rede. Era, muitas vezes, consultado, mas nunca se envolveu profundamente com os outros institucionalistas no sentido de estabelecer uma troca constante de idéias, de organização, de cursos e palestras. Aliás, esse é um ponto controverso do livro, pois quando Rutherford apresenta as idéias dos vários institucionalistas que compõem as partes mais detalhadas do livro, a influência do fouding father do institucionalismo salta aos olhos. É possível que Rutherford cometa uma injustiça com a figura de Veblen ao deflacionar sua importância.
Em suma, o livro é necessário para institucionalistas e para aqueles que se interessam por esse ramo da economia. Porém, é importante dizer que esse lançamento é obrigatório também para os professores de história do pensamento econômico e para os pesquisadores da área. A obra é uma lição, de um grande mestre, ex-presidente da AFEE e da History of Economics Society, sobre como fazer história do pensamento econômico: uma grande hipótese, um talento para contar estórias e muito suor lendo o passado salas de arquivos